A sobrevivência do Cinema digital

No terceiro artigo suscitado pelos Colóquios que foram promovidos pela Cinemateca Portuguesa a propósito da conversão tecnológica do Cinema para plataformas digitais, vou agora falar do problema da conservação dos filmes que desde 2008 começaram a ser não só criados em digital mas sobretudo que começaram a ser exibidos apenas em versões digitais.

Creio que ninguém negará que a vocação museológica da Cinemateca leva inevitavelmente à conclusão de que tal como a Cinemateca assumiu como desígnio manter a exibição dos filmes em película para preservar a tecnologia que lhe serviu de base, a mesma atitude tem de ser mantida em relação aos filmes digitais.

Infelizmente, a Cinemateca não tem orçamento para adquirir um projector digital DCP. Mas, muito mais grave, a Cinemateca não tem tido orçamento para preservar os DCPs que lhe são entregues pelo ICA como contrapartida do apoio público à sua produção. Com a generalização dos projectores DCP, o desaparecimento dos projectores 35mm (apenas um em cada multiplex de Lisboa) e os custos largamente inferiores da distribuição digital (que foram a mola que impulsionou tudo isto), o cinema nacional digitalizou-se integralmente assim que pôde, de modo a poder continuar a fazer filmes num clima de crise, de compromissos de apoio por cumprir, e de montantes de apoio inalterados desde há mais de uma década, ou seja, com perda de 20 a 25% do montante do apoio apenas e só devido à inflação composta durante esses anos.

Infelizmente, uma vez que o que a Cinemateca necessita de facto é de um Digital Vault (Cofre Digital), e isso custa muito caro e por isso a sua aquisição demora a acontecer, parece ter sido descurada a necessidade de migrar JÁ esses DCPs (e outras masters digitais de documentários, curtas e afins que existam apenas em digital mas não existem em DCP) para um formato com um tempo de vida que, mais do que limitado ou não, é previsível.

Para aprofundar este assunto, nas próximas semanas vou-me lançar na análise (prometida e descurada) dos desafios do arquivo digital.

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