Sony diz que vai começar a entregar câmaras VENICE

Enquanto andei mais preocupado com os restauros e migrações, a malta do “cinema novo” continuou a digerir o elefante digital e muita coisa mudou em dez anos.

A Sony, depois de ter dado o tiro de partida com as suas câmaras HDCAM “panavisadas”, ter colaborado com a Panavision na câmara Millenium, etc., agora tenta manter-se relevante com uns porta-aviões que só podem ser loss-leaders para mostrar que sabem fazer câmaras e levar o pessoal a comprar os produtos mais baratos. Como a classe S da Mercedes vende muitos classe A…

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Um deles é esta câmara VENICE. E porque é que dei importância à Panavision? É que esta câmara tem um sensor 24×36 Full Frame, o que significa que se podem aproveitar de novo todas essas objectivas anamórficas vintage Panavision, (e Zeiss, e Cooke) para ter realmente uma imagem com pedigree.

Portanto, se com as câmaras digitais as puseram na gaveta, está na altura de lhes tirar o pó. E se compraram umas baratas a alguém que se queria desfazer delas, já estão a meio caminho de justificar o custo da câmara!

Infelizmente, Sony é Sony e estou mesmo a ver que onde tudo vai encalhar é quando for altura de fazer montagem e grading e garanto que alguém vai usar os proxies ProRes como imagem final.

Sarna!

Introdução básica à compressão de imagem nos vários modelos de câmara

Quando estava a tentar perceber que razões a RED tem para estar a processar a Sony por desrespeito de patentes (ainda não percebi), encontrei estes dois artigos no site da revista Broadcast Engineering, cuja leitura recomendo. Aborda a compressão desde as câmaras DV até aos vários métodos de transformar dados RAW em ficheiros, infelizmente de forma muito básica.

Compression for digital cinema cameras, part 1

Compression for digital cinema cameras, part 2

RED processa Sony por uso abusivo de patentes

Uau. Tal como a Apple vs a Samsung acerca dos telemóveis, a RED lançou um processo contra a Sony por utilização abusiva nas câmaras da linha F de tecnologia patenteada pela RED.

Camera Makers Red Digital Turn Focus To Sony With Patent Suit (Deadline Hollywood)

RED sues Sony for ‘willful and wanton’ patent infringement (TheVerge)

As tecnologias em causa (tanto quanto percebi) são o processamento do debayering em duas fases separadas para o verde e para os outros canais, e pré-tratamento dos valores para obter uma melhor taxa de compressão. As câmaras baseadas em CinemaDNG (Alexa, BlackMagic) não usam esta abordagem.

O carrinho de imagem e os DITs

Com a mudança de câmara em filme para câmara digital, os trabalhos da equipa de câmara relacionados com o suporte teriam obviamente que mudar também. Como tal, o Segundo Assistente (que bate claquetes e trocava o filme exposto por filme virgem) foi fundido com o Terceiro Assistente (que geria os sistemas de apoio em video, cablagem e ajuda braçal) no Técnico de Imagem Digital (Digital Imaging Technician, ou DIT).

O DIT começou por ser responsável pelo controlo de sinal e de gravação quando se usavam câmaras HD, utilizando um monitor HD Rec709 e um Waveform Monitor na dita Ilha de Imagem. O Director de Fotografia responsável não deixava de utilizar maioritariamente o fotómetro para controlar a luz, mas entendia como indispensável o controlo do que a cãmara fazia com a conversão da luz em sinal, dando instruções ao DIT e consultando o monitor HD na Ilha de Imagem, muitas vezes com um capuz à volta da cabeça.

Com as câmaras digitais baseadas em ficheiros e em RAW, o processo é muito mais elaborado e necessita de técnicos capazes de trabalhar com imagem digital mas também com sistemas de dados avançados. Estas funcionalidades necessitam agora de um Carrinho de Imagem. Mas o DIT assegura hoje em dia muitas mais funções:

  • Os ficheiros digitais ocupam muito espaço no magasin de câmara, devendo ser retirados para armazenamento mais barato.
  • Os suportes digitais são frágeis e é necessário arquivar os ficheiros em redundância e se possível em formatos especiais de arquivo (LTO5 em LTFS).
  • Os ficheiros RAW têm muito mais informação de cor que o vídeo, sendo necessário adaptar a cor do RAW para caber no espaço Rec709. Isso deve ser feito sob instruções do DF, se possível através da aplicação de looks que idealmente deverão chegar ao grading final como base de trabalho, evitando ter de recomeçar do zero no grading.
  • Os ficheiros RAW são de longe os melhores para a qualidade final da imagem mas as estações de montagem têm muita dificuldade em trabalhar com eles, sendo necessário o transcoding para formatos de montagem (ProRes LT, Avid MXF).
  • Já que se estão a criar ficheiros que facilitem o trabalho do montador, talvez não fosse má ideia identificá-los imediatamente com Cena/Plano/Take, descrições do anotador, timecode, take escolhida ou não, etc. (metadata). E exportar Bins ou XML.
  • E já que o Director de Som está logo ali ao lado e pode fornecer um cartão com os ficheiros de som, sincronizar as rushes.

A razão pela qual nada disto se faz em Portugal escapa-me, mas deve ter a ver com dinheiro. Preferem arriscar a perda de dias de rodagem se o disco externo cair ao chão sem backup, filmar em ProRes e nunca ter qualidade de cor melhor que HD mas não ocuparem a cabecinha a aprender como funciona um workflow RAW(e descobrir depois que o filme está “baço” em projecção DCP comparado com um filme 35mm ou um filme em RAW), gastar metade do tempo de montagem a fazer transcoding, identificar planos e sincronizar o som, perder o sincronismo dos ficheiros multipista quando se passa para a montagem de som porque foram sincronizados sem referência com os originais do cartão do Director de Som, etc. Porque o tempo dos técnicos é como se fosse de graça, por isso estas asneiras não custam dinheiro. O filme pode sair muito pior porque em vez de se trabalhar na história e na parte criativa se passou o tempo à guerra com as máquinas, mas quem se importa?

Novas câmaras 4K da Sony

Agora que o mercado começa a ficar saturado de equipamentos 2K (menos, é claro, em Portugal), que hão-de os fabricantes fazer à vida? 4K!

Vai ser a loucura deste Natal: televisões 4K! Filmes 4K! Restauros 4K!

Bom, nos restauros a loucura até vai ser o 8K, com o “Lawrence da Arábia”. nas palavras da Sight and Sound, “vêm-se coisas a mais!”.

A Sony, tentando ter um argumento de vendas inexcedível em relação aos jovens lobos da RED e aos connaisseurs da Arri, apostou há dois anos na guerra dos números e não foi de modas, pôs cá fora uma câmara 8K (a F65)

Finalmente decidiram-se a trazer essa tecnologia para 4K e para preços mais realistas com a F5 e a F55

Sony F5 and F55 announced

Eu sou mais céptico – quando o 4K ficar ao preço do 2K, 10% dos filmes serão em 4K – para os outros, “2K chega e vamos é fazer mais filmes!”, porque a informação que existe numa cópia positivo em filme é 2K ou apenas ligeiramente superior (se for tirada directamente por contacto do negativo ).

Estas câmaras são uma etapa nova para a Sony porque trazem o RAW proprietário da Sony para um nível de preço muito mais acessível que o porta-aviões F65, ao mesmo tempo que começam a reflectir a necessidade de poupar nas chatices da pós-produção. Um exemplo: um dos formatos de captura disponível na câmara é RAW+MPEG2 4:2:2 50Mbit com metadados idênticos, o que na Alexa exige um gravador específico (Codex). Can I hear an Hallelujah, my friends?!!

Este RAW é 16-bits linear, tirado de um sensor 4K. O facto de ser 16-bits linear como na F65 facilita o trabalho com o espaço de cor ACES, que também é 16bits linear e será de futuro o espaço de cor de trabalho e arquivo dominante – é um espaço de cor trabalhado pela Sociedade Americana de Cinematógrafos, criado para facilitar o trabalho de rodagem-rushesgrading, para incorporar todos os outros espaços de cor e permitir conversões sem perdas entre eles.

ACES – Academy Color Encoding Specification

The ACES Color Space: The Gamut to End All Gamuts

All About ACES

Já não se fabricam câmaras de película!

Film Fading to Black (Creative Cow)

O artigo também fala da conversão aceleradíssima (mesmo dos maiores mercados) para projecção digital. Está prevista, nos Estados Unidos, para 2013. As majors vão poupar um milhar de milhão de dólares por ano!

O mercado das câmaras está ao rubro!

Executivo da ARRI USA declara-se culpado de entrar no mail do CEO da distribuidora BandPro (Engadget)

Entretanto, o advogado de Jim Jannard, fundador da RED, informou-o de que o seu mail pode ter sido hackado